quarta-feira, 13 de maio de 2009

Internamento - 5 - Hosp. de Serpa

A estadia no Hospital São Paulo de Serpa
Para abrir dizer que foram os tempos mais duros nestes meus Internamentos. Não se prende directamente com os cuidados de saúde que lá tive, mas com a fase em que, do ponto de vista psico-somático, eu bati no fundo!
Mas vamos a Factos. A razão da minha ida para Serpa, foi o facto de aí ter Fisioterapia diária, o que levaria á minha recuperação; nada disso aconteceu! Eu ir á Fisioterapia ia…mas sinais de qualquer evolução da minha Perna não se viam. As dores e mau-estar aumentavam e eu não via a luz ao fundo do túnel; vegetava!
A minha relação com as Auxiliares, Enfermeiras e Doutores, foi marcada pela constatação que não me tiravam o sofrimento, o que atrapalhou a vivência com os diversos profissionais que me acudiam; de referir, que as respostas ás minhas chamadas eram tardias e, por vezes, conflituosas.
No Quarto de duas Camas, tive vários companheiros, de que sobressai o meu conterrâneo Xico. Mas o 1º. era um velho rico, que fazia questão de mostrar que tinha péssimo feitio; tinha uma Esposa e Filha que tinham uma santa paciência para o aturar. O silêncio total era a sua forma de estar, de preferência com a cabeça tapada; os contactos eram nulos!
Com qualquer dos outros três havia relação e algum companheirismo. Antes de falar no compadre, relevar o colega de Serpa, que era simpático e com uma família excelente; era uma presença diária reconfortante, pela disponibilidade e alegria que transportavam. Um outro, da Serra de Serpa, era um campónio á moda antiga, que na sua calma fazia companhia; quase todos os dias aparecia o Irmão mais novo, que, por você, o sossegava sobre a sua actividade Agro-Pecuária e o presenteava com Coisas caseiras. Quanto ao meu Conterrâneo Xico as conversas aconteciam regularmente com boa disposição, não obstante os momentos de choro, á conta do seu futuro. As suas visitas, também conhecidas, eram a sobrinha e seu marido, trabalhando em Beja, e outro sobrinho que vinha de Messejana e trazia novas da Vila; pessoas que me envolviam nas suas visitas, o que era um conforto para o meu isolamento!
Mas eu , também, tinha Visitas! A mais regular era do meu Amigo Mário Trigo que, vivendo em Serpa e conhecendo os meandros do hospital, me trazia alento, coragem e mimos á sua maneira; foi uma boa companhia! Falar, agora, do conterrâneo que vive numa Freguesia de Serpa e é longinquo descendente do Mestre Zé Almada Negreiros; era uma visita de quando em vez, sempre agradável e amiga do Almada, onde falávamos de Pessoas e Coisas da Terra. Esquecia-me dos Amigos David e Mena, vivendo em Serpa e das lides do Desenvolvimento Local no Alentejo, que várias vezes estiveram comigo a dar-me força para encontrar um caminho de saída da vegetação, que presenciavam. Depois houve as Visitas esporádicas, de Familiares e Amigos de Messejana e Lisboa, que constituíam momentos de grande intensidade, feitos de alegrias e saudades da vida passada a duas Pernas!
Mas nestas Visitas havia uma sensação comum sobre mim: eu não falava e estava na merda! Isto foi notório numa visita dum quarteto de Messejana, em que se lia nos olhos o desapontamento face ao meu estado. …é a Vida!
Voltando aos interiores do Hospital, salientar o trauma que era ir, sem ajuda, até á Sala de Refeições, onde deparava com um mau estar generalizado e a obrigação de engolir qualquer coisa; e falar da Dra. Preta que ao ver-me gemer de dores, dava-me lições de moral de pacote. As Enfermeiras e o Enfermeiro-Chefe aturavam-me e tentavam cuidar de mim, não obstante as falas conflituosas, derivadas do excessivo exercício do Poder das nossas tratadoras; e, agora, falar do Dr. Psicólogo que ou não percebia do assunto, ou eu não era doente para aturar Psicólogos. Quanto ás, fundamentais, Auxiliares dizer que apanhei de tudo, até uma malcriada descarada e algumas compreensíveis.
Quanto á Fisioterapia, razão da minha estadia por essas paragens, referir que me passou ao lado, independentemente da atenção da Fisiatra e Terapeutas; pode não ser verdade, mas, para mim, saí de lá como entrei e não progredi na visualização dum futuro normalizado!
Foram meses sofridos, onde, apesar de tudo, deixei saudades a uma meia-dúzia…! Acabo com a referência da Morte do Compadre Xico, passados uns meses mais tarde, que me lembrou que a Morte é a coisa mais certa que temos na Vida!
Até Sta. Maria e bons momentos de vida Vivida!
Abraços Solidários!
Zé Calos.
Messejana

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