segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Memórias Cruzadas - 04 - concluído -

Das LIBERDADES nas Sociedades

Desde cedo, entendi que o aconselhado ou imposto era pouco ou nada falar sobre o que se vivia e via. Os tempos de partilha de ideias sobre o vivido, tinham que o ser nos “subterrâneos” das comunicações. A regra, era “ouvir e calar”. Aos seis anos, nos anos sessenta, entendi que as vidas vividas livremente estavam bloqueadas ou condicionadas.
No concreto. Não se podia criticar os “chefes”, fossem quem fossem. Salazar, nunca. Mostrar duvidas sobre a Guerra em África, do “Angola é Nossa!”, nem pensar. O que se passava no Mundo era escondido ou adulterado. Aquando da Libertação da “Índia Portuguesa”, todos o que a aceitaram eram diabos contra o “Bom Portugal Imperial”.
Mas, vamos a casos ilustrativos, quanto a “costumes”.
Nas diversas Escolas Primárias a repressão física sobre os canhotos era feroz. Quem ousava manter a sua natural tendência de escrever com a mão esquerda, levava reguadas e pontadas,,,para se endireitar. Mas os canhotos foram, com perseverança e verticalidade, fazendo o seu caminho esquerdo.
Um caso. Na minha 1ª visita a uma Feira do Livro de Lisboa, com o meu trio principal de amigos, talvez com 15-16 anos, o quarteto foi posto a dispersar por dois Polícias. Porquê ? Por ser proibido ajuntamentos de mais de 2 Pessoas na via pública, eventuais inícios de manifestações. Sabemos o horror que o Regime tinha à Literatura em geral, e às centenas de livros proibidos que podiam circular pela Feira, em particular, mas a estupidez fez crescer a raiva contra o “Estado Novo” em jovens com sede de cultura, obviamente livre.
Nesta memória das Liberdades nos Anos 60, apenas mais uma situação. Grave, muito grave. Aquando das trágicas “Cheias de Lisboa - 67”, em que morreram centenas de Pessoas, nunca divulgadas, as “Autoridades” desaconselharam e, ou, impediram que jovens estudantes de participar no apoio às vítimas e no rescaldo das zonas devastadas. Tudo com o argumento de se poder inflacionar a desgraça e, principalmente, gerar-se movimentos contra o Governo da Pátria. Resultado : a revolta cresceu.
Nada disto voltou a acontecer após o 25 de Abril, porque as Liberdades foram restauradas e as Pessoas passaram a viver naturalmente as suas Cidadanias. Todos os nascidos nos Anos 70 e seguintes, cresceram sem proibições aberrantes e a liberdade de Ser passou a ser como o ar que se respira. Gostava, contudo, de conhecer as suas memórias de como tem vivido e convivido com as liberdades. Fica o desafio.
Uma pergunta para, por agora, concluir. Será que a evolução do País nas últimas décadas e dentro da “Aldeia Global” desregulada levou ao cerceamento das Liberdades ou, pelo contrário, as ampliou ?
Reflectir é necessário.

José Carlos Albino
Messejana, 17 de Outubro de 2011.
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