quinta-feira, 21 de abril de 2011

Reconstruir a Utopia - 1999 - completo

“ RECONSTRUR A UTOPIA ! “
“angústias e desejos do autor, em voz alta”
( artigo de Dezembro de 1999, no Jornal “Terras do Cante” )

“ Olhar o século que estamos a fechar, que nos coloca no II milénio, é obra por fazer. Mas lançar olhares para o século XXI é uma aventura sem guião, que só se aceita quando questionados por amigos que nos julgam com ideias.
Ao risco ! Sem rede, mas com os olhos postos na Utopia.
Aqui, no nosso País e no Alentejo, estou certo que nestes cem anos melhorámos as nossas condições de vida, principalmente ao nível material e financeiro, mas, também, no domínio da abertura para uma vida cívica mais participada – “Viva o 25 de Abril” -. Mas no que respeita à procura da felicidade, tenho dúvidas enovoadas, que mais á frente tentarei desvendar.
E o Planeta. O nosso Mundo. A tão propalada Aldeia Global. Entre espectaculares novidades geradoras de bem-estar e encobertos recuos na proximidade de hemisférios e continentes, estamos numa encruzilhada sem luz á vista. Não progredimos na construção da utopia. As diferenças sociais e territoriais são angustiantes, muito porque a comunicação destapou os conhecimentos sobre realidades distantes.
Se aceitarmos que um terço da população mundial ganhou novas e maiores capacidades de viver a vida e os outros terços pouco avançaram, estagnaram ou até tenham recuado, o que nos interessa é procurar saber porquê ?. E o porquê só pode estar na filosofia – na “simples”resposta a donde vimos, o que somos e para onde queremos caminhar. O que exige respostas na ética e na estética.
Porque sou, por natureza, optimista, luto por acreditar vamos, nós e principalmente os que virão, salvar o planeta e re-sonhar a felicidade.

Quais as nossas forças? Os milhões de cidadãos livres que escaparam ao endeusamento do dinheiro e da miséria – uma minoria que se revela na fuga ao “faz de conta”. Franjas das novas gerações e vindouros que já vomitam os prazeres fabricados e a tristeza generalizada que se vê nos olhos de muitos que os rodeiam. Gente, com corpo e alma, que vislumbraram a possibilidade da utopia.
Quais as nossas fraquezas ? O individualismo e o materialismo reinantes, que dominam o poder financeiro e informativo. Ainda dominam o poder dos poderes. Mas estas fraquezas não são abstractas; estão por dentro de todos nós, principalmente porque se perdeu a noção de comunidade e se ganhou o alívio de que “não fui eu” e que cada um se quizer safa-se das desgraças – se estão mal é porque se desleixam.

Mas nesta encruzilhada, que um passado contraditório na sua velocidade e inovação nos questiona, quais os valores e actos indispensáveis para que seja possível sonhar com um mundo com saúde na natureza e com inquietações criativas nas mentes das pessoas qu fazem a aldeia global. Para mim a questão dos Valores, da Filosofia, é a principal. Precisamos de gerar uma capacidade para desenhar sociedades utópicas; e para as desenhar são necessárias medidas, esquadrias, corpos, almas e estéticas.
Se considerarmos que no que respeita aos Valores é humanamente óbvio que batalhar para pôr na ordem de todos os dias “igualdade, liberdade e fraternidade” , que no anunciaram Cristo, Leonardo da Vinci, Bakunini, Marx, Ghandi, Almada ou Che Guevara, o que nos inquieta já é quais os actos, quais as coisas, que mensagens é preciso por em movimento.
Deixo-vos, modestamente, com umas sugestões:
- Desmascarar, também para dentro de nós, o jogo do “faz de conta”;
- Exercer a possibilidade de cada um de nós sermos cidadãos e, em conjugação, esboçarmos “contra-poderes”;
- Desvendar a informação e comunicação para todos os cantos do mundo e por todos os grupos sócio-culturais;
- Adoptarmos como valor supremo, o prazer de estar de bem connosco e com quem nos rodeia;
- Cultivar a liberdade e criatividade, enquanto factores imprescindíveis ao progresso, não obstante erros de percurso;
- Racionalizar que só no estreitar dos fossos territoriais e sociais, será possível ter paz nas aldeias e cidades de todo o mundo;
-Reforçarmos o olhar para o futuro, aprofundando os nossos actos tendo em conta os filhos, netos e bisnetos que se vão gerando, o que exige um melhor conhecimento das nossas histórias:
- Tornar claro, e claramente sabido por toda a gente, que a mãe natureza não admite mais atentados e que precisa de respirar.

Neste pensar alto, deixo-vos com as ideias-coisas que consigo escrever nesta encruzilhada de muitos sentidos. Balelas, sentimentalismos e generalidades dirão muitos…mas, pensando, continuarão a dizer ?
Mas nesta velocidade supersónica que vivemos neste século das duas dezenas, em que inovações, saltos e cambalhotas se reproduziram mutuamente, penso que o momento é de calma e humildade.
Julgo que assim que encontraremos os passos do caminho da história, vivida e por viver. Cheira-me que, com a ajuda dos infernos e céus, avançaremos no século XXI para uma sociedade com mais liberdade, mais prazer e maior convivialidade.
Avanços que só se farão se encontrar-mos o Sul do nosso caminho que, com sobressaltos e tormentos, se farão caminhando com alegria e persistência.
Acabo, desejando “Boas Entradas” e com a presunção que o que aqui ficou escrito possa gerar debates, polémica e novos escritos. Acabo, à espera de novas criações e acções. Acabo, com um sorriso nos olhos.
Boa Sorte Para Todos Nós !

José Carlos Albino
Presidente da ESDIME, Agência para o Desenvolvimento Local no Alentejo Sudoeste.
Presidente da ANIMAR, Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Local.
-mas que escreve na sua maior qualidade de Cidadão do Mundo -
vvvvvvvv

Sem comentários:

Enviar um comentário

 
Acessos: